Brincadeira de criança

Viajar sem dúvidas nos proporciona experiências incríveis. Finalmente ver de perto aquela obra de arte maravilhosa daquele pintor/escultor/arquiteto genial que você adora. Provar as comidas que você já gostava, mas agora onde elas foram originalmente criadas. Apreciar paisagens de tirar o fôlego, sair da sua rotina maçante de trabalho-gentechata-casa, expandir seus horizontes e explorar além da sua zona de conforto. Viajar causa isso e muito mais. Causa dependência também, vício extremo de querer essas sensações sempre na sua vida. Mas, dentre todas as maneiras possíveis de se viajar, eu venho cada dia mais me apaixonando por essa que escolhi, o voluntariado.

Mesmo dentro das minhas atividades que precisam ser repetidas todos os dias existe espaço suficiente para o inesperado, o surpreendente e com uma certa frequência, momentos que me tiram o fôlego. Agora escrevendo eu consigo lembrar de pelo menos três ou quatro momentos dessa minha semana passada que me tiraram do eixo e que eu simplesmente não tinha a menor pretensão em vivê-los quando abri os olhos pela manhã. Foram paisagens, lugares, palavras e brincadeiras que duraram poucos minutos, mas que sem dúvida transformaram alguma coisa aqui dentro de mim.

E vivenciar tudo isso na companhia de crianças leva a coisa toda pra um nível muito mais profundo. Ontem pela manhã eu estava com brincando com a minha mini companheira (que essa semana vai completar 4 anos) e ela disse que queria brincar de trabalhar. Enquanto ela usava uma caixa para fingir que era o seu computador, eu deveria usar o meu celular para ligar para algumas pessoas. Primeiro liguei (de mentirinha, claro) para a mãe dela, depois para o pai e por ai foi, até que ela pediu para que eu ligasse para alguém do meu país. Perguntei com quem ela gostaria que eu conversasse e ela respondeu “your boyfriend” (acho que falo muito dele perto dela haha) então fingi a ligação e comecei a maior conversa em português. Ela adorou me escutar falando tanto em português e quando eu desliguei ela pediu:

– agora liga pra outra pessoa do seu país.

Eu: com quem você quer que eu fale agora?

Ela: liga pra sua mãe!

(pausa)

Nos próximos segundos minha mente borbulhou de questionamentos: será que eu falo pra ela que minha mãe já morreu? Como eu vou conta isso?

Ai lembrei de uma conversa que tive com a mãe dela uns dias atrás onde ela me disse que a pequena anda fazendo algumas perguntas sobre quando a nossa vida acaba e que ela ainda não tinha a noção de que isso um dia poderia acontecer com os pais dela.

Seria eu que contaria que pai e mãe morre e que não necessariamente a gente já vai ser adulto quando isso acontecer? Acho que não.

Eu: ok, vou ligar pra minha mãe…

Então eu liguei, e falei tudo que eu queria falar. Repeti frases que já disse tantas vezes, mas que não dizia em voz alta há algum tempo como “oii mãe, tô bem sim, aqui é lindo você tem que vir um dia conhecer”. Contei algumas novidades, falei como estava me sentindo bem e em seguida veio a frase que mais ecoa em mim “estou com muita saudade!”

Ah essas brincadeiras de criança…

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