Posso falar de morte?

Já te falei sobre a minha mãe?

Foi ela que deu início a toda a minha vontade de viajar, conhecer novos lugares, explorar mais a vida, construir uma realidade mais significativa nas trocas que eu faço diariamente com as mais diversas pessoas. Na verdade não foi bem ela, foi a ausência dela.

De fato ela deu início a muitas coisas na minha vida (senão todas) enquanto ainda estava presente fisicamente, mas se tinha uma coisa que eu não imaginava ser possível era ela continuar ensinando e iniciando coisas na minha vida mesmo depois de partir.

E estamos ai, vendo que não só é possível como também é potente.

Ela está em todos os lugares!

Comecei a aprender mais sobre viver quando tive que falar sobre morte, quando tive que sentir a realidade de encarar esse momento e finalmente entender que era real mesmo, estava acontecendo ali comigo, que tinha chegado aquele temido dia e o único jeito possível era encarar, não tinha pra onde correr.

Mas sem dúvidas teria sido mais acolhedor se eu já tivesse me permitido falar sobre morte antes de estar totalmente envolvida com isso. Antes que o papo do café da manhã, almoço e janta fosse sobre consultas, tratamentos, medicina alternativa, exames, sintomas, remédios… e onde era assustador demais falar sobre a morte mesmo porque ela estava próxima demais e todo mundo sabia, então parecia que se alguém falasse em voz alta a palavra “morte” ela se aproximaria com mais rapidez sentindo que foi chamada.

Talvez eu soubesse como lidar melhor com esse momento se eu tivesse admitido mesmo que ele chegaria. Se eu tivesse me permitido perguntar sobre as histórias da adolescência da minha mãe, sobre como foi encarar a vida com uma filha pequena e recém divorciada, sobre como foi se apaixonar pelo meu pai, sobre os dias que ela desejou não ser mãe porque estava exausta demais, sobre os planos de fuga que provavelmente ela fez na cabeça nos dias mais difíceis, sobre como era ser ela, sobre como era pra ela ser mãe… ser minha mãe.

Teria perguntado com mais amor e carinho o que ela desejava pra vida dela até o último minuto. Basicamente porque eu queria muito que ela se sentisse respeitada verdadeiramente até o último momento. Foi desrespeito demais durante uma vida toda e ela merecia ser bem tratada, amparada e acolhida de todas as formas possíveis.

Ontem assisti um documentário na Netflix chamado “A Partida Final” (End Game) que vale muito a pena ser assistido. Um assunto importante pra toda e qualquer pessoa e que é lindamente retratado em apenas 40 minutos.

 

 

Precisamos aprender a falar sobre a morte.

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